Indígenas.BR - Festival de Músicas Indígenas 2022 - Dia 26/08

A inédita reunião de anciões, anciãs e líderes espirituais de diferentes etnias marca o terceiro dia de festival.

15h – Oficina Polifonias vocais com Cafurnas Fulni-ô (PE)

17h – Casa da Memória

Encontro com líderes espirituais, anciãos e anciãs de diferentes povos:

Atiã Pankararu (PE)

Detentor de saberes tradicionais, cantador, liderança inestimável do povo Pankararu; Fernando é responsável pelo Terreiro do Poente que tem por função praticar e sediar rituais tradicionais dos segredos do povo Pankararu e manifestações indígenas da tradição do Cansanção, na Corrida do Umbu, principais ritos e festividades do seu povo.
É também arte-educador na escola Indígena Pankararu, onde ensina crianças e adolescentes sobre a cultura, como os artesanatos,  contribuindo para o fortalecimento e manutenção da comunidade.  Atiã esteve no Reino Unido e na Suíça, em intercâmbios culturais como representante dos povos indígenas do Brasil.

Thulni Fowá (Fulni-ô-PE)

Karangre Xikrin (PA)

‘Mei’  é uma palavra que designa um conjunto de valores essenciais aos Xikrin, povo que vive na TI Xikrin do Cateté, no sul do Pará. Povo de organização social tradicionalmente forte, com papéis diferenciados entre homens e mulheres, funções específicas para cada grupo de idade e qualidades estratégicas para suas lideranças, os Xikrin sempre demonstraram uma grande preocupação com a beleza e a correção daquilo que os cerca.

D. Floriza e Roseli (Guarani Kaiowá/MS)

Floriza de Souza nasceu em 1960 em Cuchui Yvygua à margem do rio Yguarusu,  hoje propriedade da Missão Kaiowá. Seu pai Isaque de Souza era kaiowa e sua mãe Monika Duarte, Guarani. Com a chegada dos não-indígenas e as expulsões de suas terras, sua avó Patrona de Piraju e seu avô Alexandre do Paraná foram para a Reserva Indígena de Dourados. Floriza aprendeu de sua vó Petrona as rezas guarani e do seu avô paterno, Zacarias de Souza Brites, as rezas kaiowá. Floriza estudou na escola da reserva, casou-se com Jorge da Silva aos 14 anos, com quem teve 6 filhos e 1 filha. Até 2000 Floriza realizava as rezas na casa de reza do seu pai. Em 2002, após a morte do seu pai, levantou com seu esposo sua primeira casa de reza, refeita em 2010, que resistiu até 2016. Hoje Floriza é uma referência no âmbito da vida social e ritual da aldeia Jaguapiru, canta, dança e reza com seus familiares e gosta de falar sobre a sua cultura. Indígenas e não-indígenas a procuram para benzer-se e escutar suas rezas. Floriza também se denomina “professora” da sua comunidade, pois reúne seus netos e outras crianças para ensinar-lhes sobre a cultura tradicional kaiowá, principalmente sobre a importância da terra, da placenta do recém-nascido enterrada na terra e sobre as plantas medicinais.
Roseli Concianza Jorge é líder espiritual do povo Kaiowá,  bisneta de Pa’i Chiquito, fundador da comunidade de Panambizinho, no Mato Grosso do Sul. Roseli é atualmente a pessoa mais engajada na promoção dos cantos rituais na Terra Indígena Panambizinho. Ela é uma das principais conhecedoras do ñevanga, ritual terapêutico baseado totalmente em palavras. “Este ritual tinha muito mais va­lor, agora são poucos os que confiam nela”, queixa-se nossa interlocutora, ao explicar que os médicos, enfermeiros e agentes de saúde têm empurrado para o limbo as terapias tradicionais. Roseli e seu esposo são conhecidos pelo seu engajamento no âmbito da vida social e ritual. Mesmo sendo impedida de liderar a longa reza da festa do milho, por ser mulher, ela é uma estudiosa da reza e prepara-se para dirigi-lo.

Dirce Jorge (Kaingang)

Dirce Jorge é Kaingang, pajé (kuiã) e gestora e curadora do Museu Worikg da Terra indígena Vanuíre. O Museu Worikg é uma iniciativa de três mulheres indígenas de uma mesma família de Kaingang, cujo propósito de vida é lutar pela causa indígena e divulgar sua cultura Kaingang. O Museu Worikg nasceu desse propósito. O acervo pertencia a Jandira Umbelino, cujo nome indígena era Nhã Nhaty, matriarca da família falecida há quatro anos. Lá, além dos objetos do acervo, está presente aquilo que não se toca, apenas se sente. Está localizado na Terra Indígena Vanuíre, no município de Arco-Íris, oeste do estado de São Paulo.
Dirce  ouviu da mãe, durante toda a infância, que não podia cantar. Jandira Umbelino, de quem herdou a pajelança, tinha medo que os brancos ouvissem suas filhas e filhos cantassem na língua indígena e os matassem, como fizeram, décadas atrás, com tantos outros Kaingang. No caso de Dirce, os avisos soavam como castigo. Ela insistia em ouvir as melodias na voz da mãe e, depois de prometer que não cantaria em público, somava sua voz às letras no idioma originário.
“Minha mãe foi um livro para mim”, conta Dirce, única dos irmãos que seguiu o legado da mãe, mesmo não podendo aprender todo o idioma. “Enquanto ela viveu, fiquei ao lado dela aprendendo tudo o que sabia, do canto à culinária. A gente já nasce Kujan (versão feminina do Pajé), somos escolhidas. Nascemos com uma força e ninguém segura, então quando criança eu já sabia que queria fazer tudo o que minha mãe fez e mais”.
Jandira passou décadas escondendo sua cultura, com medo dos não-indígenas. Ela enrolava seus artesanatos, vestimentas, colares e cocares dentro de vários panos e os guardava. Em 2016, conta Dirce, a mãe se tornou encantada, deixando o mundo dos vivos. Desde então, ela assumiu a pajelança.

Mediação: Idjahure Kadiwel

Idjahure Kadiwel é poeta e antropólogo, nascido no Rio de Janeiro e pertencente aos povos indígenas Terena e Kadiwéu do Pantanal sul-mato-grossense. Seus trabalhos e atividades perpassam as artes, as musicalidades, a memória, a etnomídia e a etnologia dos povos indígenas, por meio de uma atuação contracolonial, transdisciplinar, transmídia e multilinguística.
Foi correspondente da Rádio Yandê (2016-2020), editor da coleção Tembetá (Azougue Editorial, 2017-2019), pesquisador do programa de residência MAM-Rio | Capacete 2020, editor do catálogo da exposição Véxoa: Nós sabemos (Pinacoteca de São Paulo, 2021), apresentador do podcast Nhexyrõ: artes indígenas em rede (Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, 2021), tradutor do catálogo da exposição Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea (MAM-SP, 2021) e codiretor do documentário Música é Arma de Luta (Mi Mawai, 25′, 2021). Atualmente trabalha como cocurador do curso Musicalidades Indígenas no Brasil (Itaú Cultural) e desenvolve pesquisa de doutorado sobre oralidades musicais & musicalidades indígenas a partir do alto rio Negro.
É graduado em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela PUC-Rio (2017), mestre em Antropologia Social pelo PPGAS-MN/UFRJ (2020) e doutorando em Antropologia Social pelo PPGAS/USP.

19h – Apresentação Awá Guajá (MA)

Os Awa Guajá são um povo indígena de recente contato, que vive em quatro terras indígenas localizadas na amazônia maranhense, falantes da língua guajá (awa ‘ĩha), pertencente à família Tupi-Guarani, e somam cerca de 520 pessoas. Sua história recente é marcada pela violência e pela ocupação de seus territórios por não-indígenas (karai), processo que foi estimulado pelo Estado brasileiro. Após o contato com os karai, os Awa passaram a viver em aldeias, mas há grupos vivendo em isolamento voluntário nas Terras Indígenas Awá, Caru e Araribóia.
Apesar de a maioria dos Awa Guajá não mais viver em acampamentos na mata (ka’a), a vida na floresta é fundamental. Assim, caça, pesca e coleta continuam sendo as principais atividades dos Awa Guajá, conhecedores de muitos caminhos e áreas de caça que atravessam todo o seu território tradicional.
Os Awa Guajá possuem muitos cantos. Todos esses cantos foram ensinados pelos karawara, seres celestes que costumam vir para a terra em busca de caça, água, mel, produtos importantes para que eles possam viver no céu. Os cantos mostram o jeito de viver de cada karawara, que é o dono do canto: sua alimentação, seu modo de caçar. No período de seca (kwarahy mehẽ), é realizado o ritual da tocaia (takaja).
Nas tocaias rituais existe uma abertura no teto, de onde os cantadores awa partem para o céu (iwa). Os cantadores awa vão para o céu e os karawara descem ao chão. Eles, então, saem da tocaia ritual e passam a cantar e a dançar. Depois, eles param em frente às mulheres e crianças, cantam e sopram os seus corpos. Esse sopro traz o calor do céu (iwa hakuha), que pode curar um doente ou fazer com que uma pessoa não adoeça. É o canto (jãnaha) que faz um awa ser uma pessoa de verdade (awatea) e é por meio do canto que são transmitidos os conhecimentos dos Awa Guajá. É uma pequena parte desses cantos que os Awa irão apresentar.

20h – Apresentação Cafurnas Fulni-ô (PE)

Grupo formado por cantores do povo Fulni-ô que vivem em uma aldeia próxima da cidade de Águas Belas em Pernambuco. A apresentação com suas  músicas e danças tradicionais, entre elas, a cafurna, colaboram fortemente com o fortalecimento cultural desse povo. Todo ano, eles se recolhem para a realização do ritual do Ouricuri, momento em que celebram a sua tradição e tomam decisões políticas. Apesar de terem conseguido manter viva grande parte de sua cultura, o povo Fulni-ô ainda não possui território demarcado. Falam a língua yaathe, considerado o maior patrimônio do povo Fulni-ô, pilar de sua identidade. O idioma guarda tradições milenares e garante a existência desse povo.
Para contribuir com a valorização e promoção desta língua e ainda somar com as ações da UNESCO no Ano Internacional das Línguas Indígenas, foi lançado, em 2019, o projeto Cafurnas Fulni-ô. Cafurnas são músicas originais do povo Fulni-ô, cantadas inteiramente em Yaathe. Essa música tem o potencial para difundir costumes, fazeres e saberes tradicionais.