A inédita reunião de anciões, anciãs e líderes espirituais de diferentes etnias marca o terceiro dia de festival.
Encontro com líderes espirituais, anciãos e anciãs de diferentes povos:
Floriza de Souza nasceu em 1960 em Cuchui Yvygua à margem do rio Yguarusu, hoje propriedade da Missão Kaiowá. Seu pai Isaque de Souza era kaiowa e sua mãe Monika Duarte, Guarani. Com a chegada dos não-indígenas e as expulsões de suas terras, sua avó Patrona de Piraju e seu avô Alexandre do Paraná foram para a Reserva Indígena de Dourados. Floriza aprendeu de sua vó Petrona as rezas guarani e do seu avô paterno, Zacarias de Souza Brites, as rezas kaiowá. Floriza estudou na escola da reserva, casou-se com Jorge da Silva aos 14 anos, com quem teve 6 filhos e 1 filha. Até 2000 Floriza realizava as rezas na casa de reza do seu pai. Em 2002, após a morte do seu pai, levantou com seu esposo sua primeira casa de reza, refeita em 2010, que resistiu até 2016. Hoje Floriza é uma referência no âmbito da vida social e ritual da aldeia Jaguapiru, canta, dança e reza com seus familiares e gosta de falar sobre a sua cultura. Indígenas e não-indígenas a procuram para benzer-se e escutar suas rezas. Floriza também se denomina “professora” da sua comunidade, pois reúne seus netos e outras crianças para ensinar-lhes sobre a cultura tradicional kaiowá, principalmente sobre a importância da terra, da placenta do recém-nascido enterrada na terra e sobre as plantas medicinais.
Roseli Concianza Jorge é líder espiritual do povo Kaiowá, bisneta de Pa’i Chiquito, fundador da comunidade de Panambizinho, no Mato Grosso do Sul. Roseli é atualmente a pessoa mais engajada na promoção dos cantos rituais na Terra Indígena Panambizinho. Ela é uma das principais conhecedoras do ñevanga, ritual terapêutico baseado totalmente em palavras. “Este ritual tinha muito mais valor, agora são poucos os que confiam nela”, queixa-se nossa interlocutora, ao explicar que os médicos, enfermeiros e agentes de saúde têm empurrado para o limbo as terapias tradicionais. Roseli e seu esposo são conhecidos pelo seu engajamento no âmbito da vida social e ritual. Mesmo sendo impedida de liderar a longa reza da festa do milho, por ser mulher, ela é uma estudiosa da reza e prepara-se para dirigi-lo.


