Quatro Ventos Produções apresenta Resistência Nativa: Ayvú Anhenteguá. O médio documentário traz olhares da cultura guarani para com a natureza, mentalidade e atitude.
A equipe realiza uma imersão no universo do povo guarani, permitindo serem direcionados pelos mesmos. Tal fato se reflete no ritmo da obra e no próprio título, escolhido pelos entrevistados, que significa “assunto forte” ou “assunto verdadeiro”. O documentário conta com depoimentos de dez pessoas e transita entre assuntos como rap, literatura, escolaridade e espiritualidade. Além de contar com um videoclipe da primeira cypher indígena do Brasil, realizada pela Matte Records junto de Brô Mc’s, Kunumi Mc e OZ Guarani.Provocativo, porém descontraído, “Resistência Nativa: Ayvú Anhenteguá” traz a tona assuntos de extrema importância para a sociedade.
Nhandesy traz uma narrativa intimista com a ancestralidade originária e sua maneira de ver e sentir a “nossa mãe, nossa terra”, e, ao mesmo tempo, faz um alerta de como a humanidade tem a tratado. O doc tem como fio condutor a música Mamo oyme ndory, Tekoha pyma oyme (Onde está sua alegria ela está no tekoha).
Randa Kunã Poty Rory, jovem do povo Guarani-Kaiowá, é o nome de Ana Lúcia ou Anarandá Guarani, como é conhecida, e significa “mulher flor brilhante, carismática e comunicadora”. A jovem artista, estudante de gestão ambiental na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), conta que decidiu ser cantora para transmitir ao mundo a cultura e a realidade do seu povo por meio da música.
Os artistas visuais VJ Suave e o músico Nelson D se juntam nessa colaboração que mistura elementos sonoros e visuais da ancestralidade indígena brasileira com a psicodelia e a fecundidade da tecnologia eletrônica. Rapé (“caminho” em língua Nheengatu) é um caminho audiovisual onde as músicas autorais de Nelson D se refletem numa sequência magica e frenética dos duos de Vj’s. Por meio de animações e capturas de vídeos, o grupo de artistas transitam ao redor de dois argumentos: a identidade indígena no nosso tempo e a importante entidade da natureza e da terra. O que significa ser indígena na nossa contemporaneidade? Como se expressa a pluralidade indígena na nossa sociedade quando a maioria das vezes essa última a invisibiliza?
Como a experiência indígena se expressa por meio de diferentes tecnologias não originárias? Essas pautas se intervalam no curso do show com a importante presença da natureza, interpretada como gerador de vida animal e vegetal, espalhador de fauna e flora com os quais os seres humanos ainda não concretizaram uma simbiose respeitosa e próspera.
Flores tropicais luminescentes, onças endeusadas, insectos psicodélicos e muitos mais elementos se tornam os objetos pela criação de cenas e padrões visuais, acompanhando o caminho sonoro criado pelas canções do Nelson, que explorando diferentes BPM, cria uma trilha sonora épica e, ao mesmo tempo, dançante. Uma experiência indígena futurista que não deixa de gritar uma mensagem social e ambiental urgente.
Resistência nativa já nasceu grande: é o primeiro cypher indígena produzido no Brasil – com versos em português e guarani. A união do rapper Kunumi MC com os grupos Oz Guarani e Brô MC’s, pioneiro do gênero no país, gerou uma música potente, que ao mesmo tempo denuncia o extermínio dos povos originários e dos recursos naturais, oferece uma conexão com o ouvinte – a sensação de pertencimento é inevitável. A faixa foi produzida por Vinícius Flausino (Healing Fox), autor do beat e da mixagem.
O clipe de Resistência nativa, dirigido pelo produtor audiovisual Leo Solda, abre com o escritor Olívio Jekupé, pai de Kunumi MC, exaltando a mensagem passada durante o cypher. “Rap escrito com pensamento nativo, que retrata uma realidade, não uma ficção, e sim uma tradição vivida de coração que irá nos contar nessa canção”, declama o poeta, que vive na aldeia Krukutu, em Parelheiros (SP). São sete minutos de versos contundentes e abordagens diferentes, do trap ao speed flow. As filmagens, realizadas também em Jaraguá (SP) e Dourados (MS), terra dos grupos Oz Guarani e Brô MC’s, respectivamente, enriquecem o discurso dos cantores.
“A luta indígena continua em todo território ancestral, e nós jovens somos os protagonistas dessa missão herdada por nossos anciões e ancestrais, colocando em prática o que aprendemos em nossas aldeias e vivências indígenas em prol dos povos indígenas, da floresta e dos nossos direitos enquanto originários de Pachamama. A Música Indígena Contemporânea vem com tudo para fortalecer, e aqui as boas vindas para vocês na imersão de nossa música indígena. Demarcação já dos palcos e das terras”.
Muitos jovens indígenas têm se enveredado pelo rap para reivindicar seus direitos à terra e a seus modos de existir e ver o mundo. O discurso de confronto para tomar posse no cenário político do país na luta pelos seus direitos enquanto “indígenas” e, assim como uma forma de falar sobre suas práticas espirituais intercalando cantos sagrados (mborai).