A voz enquanto lugar de territórios e de fronteiras, espaços habitados, símbolo e linguagem, movimento, como técnica para o discurso: essa é a premissa da nova edição do Território Corpo, programa do CCVM que permite a expressão artística e a discussão das interações entre corpo, arte e sociedade através de diversas visões e subjetividades.
Assinam a curadoria Calu Zabel e Abimaelson Santos.
Confira a programação:
Palavra Não Dita, de Aline Coutinho, às 19h
Durante um ano, Sérgio, pai de Aline, passou pelo processo de tratamento de um câncer de boca e pescoço que impossibilitou sua comunicação verbal, obrigando-o a se comunicar por bilhetes. Oito anos após a morte de seu pai, a atriz resgata os bilhetes deixados por ele buscando dar voz àquilo que nunca foi verbalizado.
Violas, da Cia. Chão de Cozinha, às 19h20
Maria e Antônia Viola observam e memorizam por décadas a dança de povos que cruzam seus caminhos e trajetórias. Histórias não ditas e outras ouvidas tomam formas e circulam pelos tempos de dores e vivências dessas mulheres. Narrativas e encontros que demarcam o processo de formação da comunidade Centro dos Violas, território quilombola de Santa Rita (MA).
Após as apresentações, haverá bate-papo mediado pela atriz Gisele Vasconcelos.
Lânguido, com Dudu Gehlen, às 19h
Após Pai Francisco cometer o assassinato de um boi, o espírito ressurge evocando todo o sangue que espirrou de sua língua, em seu último manifesto.
Por Debaixo da Careta de Cazumba, de Lara Moura, às 19h20
Por debaixo da careta de Cazumba tem água de sal; é choro e suor. O sal que limpa o terreiro é o mesmo que salga esse corpo miolo. Em toda encantaria que arrodeia a criatura Cazumba existe memória e afeto em todos os sentidos de quem o movimenta; na vista, na escuta, no tato, nos aromas e nos sabores. A cena é uma experiência que permite adentrar as sensações que o ‘corpo de gente’ sente por trás do que é impresso esteticamente no ‘corpo Cazumba’.
Fúria de Medeias, de Sofia Cartágenes e Mateus Max, às 19h40
O arquétipo da mulher vingativa sempre foi tido como algo odioso. Na cena, a fúria é exaltada como símbolo de liberdade e rompimento do estereótipo de mulheres bondosas e mansas, que permanecem ao longo dos tempos como características virtuosas. Unindo “Medéia” de Eurípedes e o texto “Gota D’Água” de Chico Buarque e Paulo Pontes, a cena propõe uma reflexão sobre os direitos da mulher e a realidade das Medeias dos tempos de hoje.
Após as apresentações, haverá bate-papo mediado pelo ator Leonidas Portela.
Tempo Corpóreo, de Caio Quimera, às 19h
Articulando com a postura de prontidão no pisar, olhar e respirar, o corpo desvenda o seu próprio caminho de auto-conhecimento, assumindo sua essência e resistência diante um sistema que já impõe suas territorialidades. Até quando as gerações viverão o peso do não pertencimento? Até quando haverá o apagamento de corpas/corpos? No movimento da história uma corpa/um corpo morto é mais aclamado que um corpo vivo.
Mergulhar no Mistério, Cavar Espaços, Rachar a Pedra: uma desmontagem cênica a partir da voz, de Thiberio Azevedo, às 19h20
Uma investigação da formação de um artista da cena, levando em consideração a invenção de si a partir do reconhecimento das vozes que atravessam um corpo político-poético. Reencontrando e aproximando-se dos escritos de Valere Novarina e Ana Kfouri, o artista agencia um território investigativo para experimentação do trabalho vocal e da palavra em cena, em busca de uma poética da voz encantada.
Após as apresentações, haverá bate-papo mediado pela diretor Tiago Fortes.
Soneto Bruto, de Wiliam Euller, às 19h
Quantos apagamentos cabem em um cotidiano? O que te queima? Gasolina em quem? Em um estado de urgência, o artista dispõe seu corpo e traz para a cena gritos internos do cotidiano, instigando os espectadores a visitarem suas memórias pessoais e todas as vezes em que foram queimados e apagados.
Insaciável, de Gael Cardoso e Tamia Machado, às 19h20
Um manequim vestido. Ao seu redor, revistas de modelos dentro de um “padrão” da sociedade e várias peças de roupas de um tamanho “ideal”. Um corpo adentra o espaço e se dispõe a vestir aquelas peças. Quanto vale e quanto se pode ferir o próprio corpo para alcançar medidas irreais?
Após as apresentações, haverá bate-papo mediado pelo diretor e curador Abimaelson Santos.
Árvore Mangueira, do grupo Cena Aberta, às 16h
A maior árvore do quintal, a Mangueira, ouve os segredos de uma menina cheia de sonhos. Numa noite, contando as estrelas, a menina adormece, voa pelo alto das casas e vê uma moça de saia de fogo e cabeça de boi. Será que a criatura veio assustá-la?
Contar histórias: a arte da memória, com Gisele Vasconcelos, das 10h às 13h
A partir da oralidade, no verso e na prosa, nas aproximações com a voz que canta, fala e conta, a oficina visa trabalhar a memória e a tradição como alimento para contadores de histórias, tendo como fundamento a noção de pertencimento.
Abraço Sonoro, com Áurea Maranhão, das 15h às 19h
A oficina “Abraço Sonoro” vem compartilhar e apresentar estudos vocais, técnicos e pesquisas sobre a palavra, apresentando uma estrutura flexível que valoriza as experiências individuais, a partir da sensibilidade e da consciência corporal e espacial de cada pessoa, acompanhando os estudos e pesquisas científicas contemporâneas.
Práticas do invisível: encontro entre práticas asiáticas e criação em dança, com Beatriz Sano e Eduardo Fukushima, das 10h às 13h
Os encontros terão como foco introduzir os princípios de práticas asiáticas que permitirão entrar em contato com as percepções e sensibilidades do corpo.
As reverberações dos corpos possibilitarão surgimento de um campo ressonante para os caminhos da criação de movimentos.
O Corpo da Voz, com Tiago Fortes, das 14h às 17h
A proposta desta oficina é experimentar a voz em sua materialidade produtora de sensações, em sua realidade fisiológica, na minúcia do funcionamento de seu complexo aparelho que vai do diafragma a dentes e língua. A voz não será tratada como uma ferramenta do ator, mas como sua própria realidade afetiva e existencial, como um elemento através do qual se dá a percepção de seu próprio corpo, de sua própria vida.
Música, voz e cena, com Paulo Cardoso, das 14h às 18h
A oficina provocará os participantes com jogos musicais, de percepção auditiva com instrumentos de percussão e reconhecimento de timbres corporais. Também haverá introdução de técnica vocal em grupo com vocalizes e exercícios de respiração, movimentos e interpretação da canção.
Oficina Dramaturgia, Performance e Processos Criativos, por Marcio Abreu, das 10h às 13h
Com caráter expositivo, abordará de maneira analítica, contextual e relacional um repertório dramatúrgico e de processos criativos associados às experiências de pesquisa e criação junto à Companhia Brasileira de Teatro, ao Grupo Galpão e a outrxs artistas e coletivos. Além da obra de Marcio Abreu, serão abordados autores como Julio Cortázar, Philippe Minyana, Jean-Luc Lagarce, Paulo Leminski, Ivan Viripaev, entre outrxs.
Oficina Palavra-Corpo, por Key Sawao e Fábio Osório Monteiro, das 14h às 17h
A oficina aborda a relação entre movimento e texto. Pesquisar caminhos para que o corpo em movimento crie as dinâmicas do texto, e que o texto crie partitura corporal. Visitar diferentes perspectivas para mover corpo e texto. Trabalho desenvolvido a partir de experiências em processo de criação e pesquisa dos artistas.
A voz do coro brincante, com Larissa Ferreira, das 10h às 13h
Nesta experiência performática, Larissa propõe explorações e metodologias fundamentais para preparação do corpo e voz. Através de suas vivências e cruzamentos, utiliza a memória corporal das manifestações populares maranhenses, como o Bumba Meu Boi, Cacuriá, Tambor de Crioula, como base para a criação e potência cênica no canto e no movimento.
Argila, de Áurea Maranhão
A performance mergulha na profundeza dos corpos e busca encontrar o silêncio, o tempo e a potência que habitam nesse espaço, utilizando recursos dramatúrgicos para explorar a conexão com o corpo, a ancestralidade e a empatia por meio dos neurônios-espelho, uma descoberta importante da neurociência. Com base no livro “Sonho Manifesto” de Sidarta Ribeiro, “Argila” propõe um percurso envolvente com o uso da argila como ferramenta visceral de recuperação da escuta, utilizando o corpo da performer como plataforma para transmitir sensações e imagens ao público.
Bola de Fogo, de Fábio Osório Monteiro
“Bola de Fogo” é uma performance que inaugura um novo momento da carreira do performer, que passa a atuar também como baiana de acarajé. A obra relaciona o fato de Osório ser um artista atuante na cena contemporânea, tendo trabalhado com importantes artistas brasileiros e internacionais, e sua necessidade de subsistência diante da instabilidade dos tempos atuais.
O que mancha, de Beatriz Sano e Eduardo Fukushima
A peça reverbera a relação imbricada entre voz e movimento fazendo desestabilizar as noções de dualidade manchando os limites entre os corpos. Nessa vibração, os corpos se confundem produzindo uma possível comunicação que se transforma em riso, choro, ruído, melodia, conversa, barulho e silêncio.
Sem Palavras, da Companhia Brasileira de Teatro
Ganhador dos prêmios APTR (Associação dos Produtores de Teatro) e Shell de Teatro 2023 em melhor dramaturgia, “Sem Palavras” flagra os deslocamentos e travessias que ocorrem durante um dia ao redor de um apartamento. Oito pessoas de diferentes corpos, imagens sociais, referências e histórias de vida passam por ali e são a base para reflexões sobre a palavra e também sua ausência, já que o espetáculo aposta em visualidades que comunicam ao público sem uso da linguagem textual. São múltiplas personalidades que podem (ou não) habitar um mesmo espaço, um mesmo corpo. O espetáculo, com texto e direção de Marcio Abreu, tem sua dramaturgia pensada como um livro de crônicas individuais, nas quais os personagens dialogam com questões urgentes do real, revelando suas transições e transformações.