III Seminário de Arte, Educação e Cultura - Saberes indígenas em circulação

17 a 19 abril 2024

As formas de conhecer e ensinar indígenas são múltiplas e estão no centro da constituição de mundos e de encontros entre eles. Os saberes tradicionais de um povo são como uma árvore: raízes em seus territórios tradicionais, troncos de existências coletivas e galhos que ampliam seu alcance e lançam sementes para o brotar de novas existências, em troca com o ambiente e com todos os seres com que coexistem.

Esses saberes são dinâmicos e transformacionais: circulam pela oralidade, pelos fazeres, pelos cantos, pinturas e rituais; circulam por livros, por poesia, pela presença indígena nas universidades, nas instituições governamentais, nos fóruns e encontros internacionais; circulam por redes sociais, na produção audiovisual, em mídias eletrônicas. Se afirmam também em experiências e projetos de arte e educação promovidos em territórios e escolas indígenas.

O III Seminário de Arte, Educação e Cultura: Saberes indígenas em circulação busca realizar encontros, diálogos e vivências com artistas, lideranças, pesquisadores e educadores indígenas e não indígenas sobre diferentes modos de produção e difusão de conhecimentos e suas relações com processos de ensino-aprendizagem, abarcando experiências diversas, dentro e fora das aldeias.

Para este encontro, os convidados indígenas são dos povos Tremembé, Kaingang, Kaiowá Guarani, Mbya Guarani, Gavião, Guajajara Tentehar, Baniwa, Mebengokre Kayapó, Tabajara, Kadiwéu e Ka´apor, apresentando reflexões, fazeres e estéticas ligados ao que se costuma traduzir e entender como educação indígena. São apresentados modos de fazer, construir, cantar, cuidar, curar, embelezar, dentre os modos diversos de circulação de conhecimento. A memória e os encontros intergeracionais constituem, assim, um dos eixos principais da programação.

Paola Gibram e Rafael Pacheco

Curadores

Programação

17/4

10h – Conversa aberta Existências, territórios tradicionais e a educação indígena.

Raquel Tremembé, Gilda Kuitá Kaingang e Izaque João. Articulação: Paola Gibram

 

A educação indígena constitui parte fundamental das lutas dos povos originários e está conectada diretamente com os direitos ao território, à saúde e aos modos próprios de existir. Esta mesa reúne perspectivas e trajetórias de lideranças que atuam em pesquisa e educação dos povos Tremembé (MA), Kaingang (PR) e Kaiowá (MS), abordando temas comuns e especificidades relativas a cada contexto, a partir de experiências indígenas na Amazônia, no Pantanal e na Mata Atlântica.

14h – Oficina Saberes Tremembé: ervas medicinais, para aprender e ensinar, entre gerações

Maria Lúcia Aguiar Tremembé, Sônia Maria Araújo Tremembé, Maria José Dias Tremembé

 

Mulheres anciãs da aldeia Engenho da Terra Indígena Tremembé (MA) compartilham saberes tradicionais relativos às plantas e às formas de produzir chás e remédios. A memória e a circulação desses conhecimentos são fundamentais para a existência coletiva, são uma forma viva de seus saberes, que seguem fortalecidos mesmo com os constantes ataques aos direitos territoriais e educacionais deste povo.

19h – Exibição dos filmes Nẽn Ga vĩ: uma retomada kanhgág em movimento e Ga vĩ: a voz do barro

seguido de debate com as realizadoras Nyg Kuitá Kaingang e Gilda Kuitá Kaingang

 

Ga vĩ: a voz do barro

Sinopse: A animação Ga vĩ foi criada através das memórias narradas por Gilda Wankyly Kuitá e Iracema Gãh Té Nascimento, com imagens e sons captados na Terra Indígena Apucaraninha (PR), do povo Kaingang, durante o encontro de mulheres “Ga vī: a voz do barro, conversando com a terra”, em 2021. O curta aborda a tradição da cerâmica, barro, território e ancestralidade. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no 1º Festival de Cinema Indígena (Feci), em 2022.
Produção e realização: COMIN-FLD, Coletivo Nẽn Ga, Tela Indígena
Direção e roteiro: Ana Letícia Meira Schweig, Angélica Domingos, Cleber kronun de Almeida, Eduardo Santos Schaan, Geórgia de Macedo Garcia, Gilda Wankyly Kuita, Iracema Gãh Té Nascimento, Kassiane Schwingel, Marcus A. S. Wittmann, Nyg Kuitá, Vini Albernaz

Nẽn Ga vĩ – uma retomada kanhgág em movimento

Sinopse:  Este documentário apresenta reflexões e performances dos integrantes do coletivo de juventude kaingang Nẽn Ga, da Terra Indígena Apucaraninha, localizada no norte do estado do Paraná, na região sul do Brasil. As vozes kaingang – kanhgág vĩ – apresentam-se por meio das falas de alguns dos integrantes e de pessoas ligadas ao coletivo, bem como por meio dos cantos, considerados uma das principais formas pelas quais presentificam seus ancestrais [javé]  e trazem para perto de si seus jagré [espíritos-guia]. O filme mostra a forte ligação do movimento Nẽn Ga com a escola indígena, explorando as formas pelas quais os kaingang contemporâneos refletem sobre as usurpações culturais e existenciais decorrentes dos muitos anos de contato com os fóg [brancos, não-indígenas] e a necessidade urgente de se retomar as práticas e conhecimentos kanhgág que lhes foram proibidos ou violados – os quais consideram que estavam “dormindo” e agora estão sendo “acordados”.
Direção: Nyg Kuitá Kaingang e Paola Gibram
Realização: OJIK Nẽn Ga – Organização Juventude Indígena Kaingang Nẽn Ga

20h15 – Conversa Aberta Retomadas dos kanhgág jykre –  memórias, trajetórias e transformações na educação indígena kaingang

Janaína Kuitá e Jaciane Goj Fideles Kuitá

 

“A escola tomou o que é da gente e é também por meio da escola que vamos tomar o que é nosso de volta” – disse Dona Gilda Kuitá, ao se referir às imposições e proibições incutidas aos saberes kaingang (kanhgág jykré) nos primeiros momentos da escolarização nos territórios kaingang, durante atuação do SPI. Com o período pós tutelar, professores e lideranças indígenas passaram a repensar a educação escolar kaingang, incorporando o calendário de festas e rituais, os saberes tradicionais e a prática de cantos e danças, com a formação de coletivos de juventude indígena. Esta mesa reúne educadoras kaingang que vêm pensando sobre os desafios desses processos transformadores e sobre como fazer da escola um território de fortalecimento político e cultural para o povo Kaingang.

18/4

9h – Oficina Saberes do povo Gavião: plantas, artesanato, cantos e histórias.

Irene Gavião, Vladilson Bandeira Gavião e Lídia Gavião

Entre o povo Gavião (MA), os saberes que povoam o mundo assumem diversas formas, em que certas espécies vegetais tem centralidade – atuam como remédios, matéria-prima de obras de arte e de forma medicinal. São personagens de narrativas históricas. A oficina propõe uma imersão na cultura gavião com artesãos e lideranças da aldeia Monte Alegre, da Terra Indígena Governador.

16h – Conversa Aberta Literaturas indígenas: caminhos

Com Edson Kayapó, Auritha Tabajara, Olívio Jekupe. Apresentação e debate:  Idjahure Kadiwel

Escritores e realizadores partilham reflexões sobre os caminhos ainda a serem trilhados pelas literaturas de autoria indígena, e os meandros da produção editorial de livros “nativos”, curadoria de arte, entre outros processos criativos e de encontros entre culturas.

19h – Conferência A escola viva do povo Baniwa no Rio Negro.

Francy Baniwa. Apresentação e debate: Rafael Pacheco

As Escolas Vivas são projetos indígenas que buscam fortalecer a circulação dos saberes tradicionais. A Escola Viva Baniwa nasce do trabalho feito ao longo de seis anos de pesquisa e escrita do livro Umbigo do Mundo, escrito por Francy Baniwa, a partir das narrativas tradicionais transmitidas por seu pai, Francisco Luiz Fontes Baniwa. Nesta conferência, Francy Baniwa compartilha experiências da Escola Viva Baniwa, tecendo reflexões a partir da cosmovisão de seu povo.

19/4

09h – Oficina Arte dos cantos e circulação de saberes do povo Guajajara Tentehar.

Com Cintia Guajajara, Davi Guajajara e Elza Guajajara. Articulação: Magda Pucci.

Os cantos indígenas são formas vivas dos saberes. Agem sobre os corpos, fortalecem os vínculos coletivos, ligam o presente ao passado e entoam o futuro. Neste encontro, educadores e educadoras do povo Guajajara Tentehar da Terra Indígena Araribóia compartilham experiências educativas centradas nos cantos tradicionais e suas conexões com outros saberes e fazeres deste povo indígena.

16h – Conversa Aberta Teko arandu: educação indígena para além da escola.

Com Kerexu Mirim, Izaque João. Articulação: Ana Paula Gonçalves

O universo dos conhecimentos do povo Guarani ultrapassaram os saberes disciplinares e extrapolam os limites da escola. Debate entre pensadores dos povos Mbya Guarani (SP) e Kaiowá Guarani (MS) e pesquisadores exploram a trajetória da escolarização nos territórios, as distinções entre a educação indígena e a educação escolar indígena com foco na experiência da juventude e estratégias para tornar a escola instrumento de fortalecimento sociocultural.

19h – Celebração de Encerramento: Cantar com o povo Ka´apor 

O povo Ka’apor (MA) apresenta a sua tradição de cantos. São cantigas e canções de pajé, inspiradas nos pássaros, e em maioria acompanhados por flauta de bambu e tambores. O grupo de cantores ka’apor nos conduz em seu universo sonoro, que entrelaçam artes verbais, performance rituais e a ação xamânica.

Curadoria

Paola Gibram

Paola Gibram é doutora em Antropologia pela USP, pós doutoranda e professora colaboradora do Programa de Pós Graduação em Antropologia na UFGD. Suas pesquisas centram-se na relação entre artes e políticas indígenas. Trabalha com consultoria antropológica em projetos que envolvem arte indígena e é assessora do coletivo Nẽn Ga, do povo Kaingang. Trabalha também como musicista, atuando como instrumentista, compositora e arte-educadora em projetos diversos.

Rafael Pacheco

Rafael Pacheco é antropólogo e músico. Atua em pesquisa, formação, produção cultural, prestando consultoria antropológica para organizações indígenas, órgãos públicos e terceiro setor. Trabalha junto ao povo Xetá (PR) as implicações entre memória, estética e política. Pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios e doutorando em antropologia social, ambos na USP, assessor da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP), colaborador do Armazém Memória.