Ocupa CCVM - Sintétika

28 novembro 2023 a 13 janeiro 2024

Em suma, tudo aquilo que, em união, está pronto para ação. Pode ser também aquilo que funciona junto; o que é composto ou disposto… mas, cuidado! Não vamos confundir com o atual sistema! Consideremos o que está submerso. Mergulhemos para desenterrar o essencial transformador. Pouco se sabe sobre a essência das coisas e por isso é preciso fazer silêncio para ver. Quem muito fala não vê nada, já diria o sábio mateiro. Quem é da terra conhece as dimensões dos caminhos. Nós, no entanto, não estamos acostumados com o rumo claro. Aquele que pisa o solo, sabe o que há debaixo dele. A impressão é a de que deveríamos seguir, feito água em pedra dura. Mas, não! Dessa imagem só se salva a urgência daquilo que corre. O movimento deve estar mais próximo da infiltração, assim como o das raízes da floresta que seguem, basilares, o líquido que encharca o solo. Não existe caminho certo, mas interessa saber o que permanece debaixo dos caminhos para tentar entender a ínfima parte do que ali está escondido. Não é surpreendente que o rio tenha precisado secar para revelar as faces esculpidas da floresta?

Impossível escapar dessas caras sintéticas. Elas falam sobre quem esteve sempre ali. E sobre aqueles que, durante os séculos, chegaram e saíram, estiveram e não estiveram. No entanto, falam pouco a quem mantém distância. Como negar a origem milenar da floresta? Que ela exista por si, mesmo estando na boca de todo mundo que a nomeia: Amazônia. Falta saber mais dela. O que diriam os bichos? O que diriam as águas? O que diriam os fungos e plantas? O que diriam aqueles que dela e nela vivem? Escutar, de dentro, em modo composto. Altamira é o maior município do Brasil, o terceiro do mundo – em meio à floresta, sabiam?  Quantos segredos!

Todo sujeito é a síntese de seu meio. Não há como ser diferente. A subjetividade é paisagem, temperatura, umidade, luminosidade, cheiros, gostos, formas e texturas ligadas ao solo em que se vive. Os gestos, os contos, as feras, os encantamentos e o impalpável também são a terra. A Floresta Amazônica é fruto da simbiose de muitos seres e, dentre eles, o sujeito que a habita. Sintétika é fruto da reunião das diversas visões de artistas que, como amazônidas, possuem formas originais de abordar a vida em meio à maior floresta tropical do planeta. A originalidade, presente em cada obra exposta, nos mostra o quão complexa e imbricada é a relação entre o habitante e sua casa: a região amazônica. São muitos lugares que o olhar não alcança sem um guia. A produção, reunida aqui, nos ajuda, ora pelo silêncio, ora pela alegria, ora pela tragédia, ora pela poesia a ver aquilo que não se dá a ver. Sobretudo nos sussurra o mapa para adentrar esse território: agir junto, em síntese.

 

Gabriel Gutierrez

São Luís, novembro de 2023

Olhares Ilhados, de Evna Moura

Corte Seco, de Alberto Bitar

Juradas de Morte, de Márcio Vasconcelos

Desvio para o Norte, de Gabriel Bicho

Que sua luta seja como a da floresta

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Arte e ativismo socioambiental a partir da Amazônia

O golpe militar de 1964 marcou o início da crescente aceleração do desmatamento da Floresta Amazônica. Ao longo dos 20 anos em que os militares estiveram no poder, foram derrubados cerca de 355 mil km² de uma floresta que levou cerca de 60 milhões de anos para se formar. Este projeto de ocupação e exploração da região reunia sob o mesmo guarda-chuva de interesses a classe dominante político-militar, grileiros, corporações mineradoras, empreiteiras, madeireiros e o latifúndio agropecuário. Sob o slogan nacionalista ‘Integrar Para Não Entregar’, a ocupação da floresta também era pintada em discursos oficiais como assunto de segurança nacional, explorando um imaginário coletivo em torno de uma mítica e necessariamente excludente identidade nacional construída e reafirmada através de um processo histórico de avanço estatal e militar sobre o interior do território e do estabelecimento das fronteiras nacionais.

Desde a colonização portuguesa, a ocupação sistemática da floresta pautou-se na retórica do “vazio civilizacional” ao mesmo tempo em que promovia um processo violento de apagamento da imensa diversidade demográfica, cultural e biológica da Amazônia. Estima-se que a invasão dos colonizadores europeus tenha provocado uma redução de 90% das populações autóctones da região. Esta lógica predatória era perversamente justificada pela falsa necessidade de ocupação e civilização de um “vazio territorial”, e esta seguiria ecoando em projetos de Estado voltados à região amazônica nos séculos seguintes.

Como contraponto, a partir dos anos 1970, pode-se observar uma intensificação da mobilização em prol da sobrevivência da Floresta Amazônica e seus povos, por parte de movimentos organizados de ambientalistas, igreja católica, povos indígenas e trabalhadores rurais que, por vezes, contavam com a participação, direta ou indireta, de artistas, fotógrafos, curadores e escritores. É neste momento que artistas, fotógrafos e escritores residindo na Amazônia Legal, como Roberto Evangelista, Miguel Chikaoka e Márcio Souza, começam a propor novas formas de pensar e representar as problemáticas da região. Seus trabalhos desafiavam representações da Amazônia como espaço vazio e inabitado, propondo uma reconceituação da região e de seus habitantes. Ao invés de um espaço de natureza edênica, inerte e desumanizada, suas obras apresentam um território instável e dinâmico, e em constante reconfiguração pela ação dos diversos sujeitos que compõem essa realidade – povos indígenas, trabalhadores rurais, imigrantes, animais, vegetação e rios.

 

Dentre as produções que surgem nos anos 1970, destacamos a obra pioneira Mater Dolorosa I (1976-77), do amazonense Roberto Evangelista, que marca o início de uma série de respostas artísticas ao projeto de predação da floresta. Mater Dolorosa I foi exibida em uma exposição industrial que comemorava os 10 anos da Zona Franca de Manaus, em 1977. Para este trabalho, Evangelista construiu um cubo de acrílico transparente, depositando carvão vegetal em seu interior. Este cubo funcionava como uma espécie de urna funerária para abrigar restos da floresta queimada; também uma referência aos povos indígenas dizimados no processo de ocupação colonial. O cubo repousava sobre uma plataforma de areia branca fina bem batida, que desmoronava gradativamente com o passar do tempo: uma referência à progressiva transformação da floresta em ruínas diante do projeto de industrialização representado pelo próprio espaço expositivo da Zona Franca.

Esta crítica assertiva ao projeto predatório da floresta estabelecia um vínculo de continuidade entre exploração colonial no passado e exploração neocolonial no presente, a partir da penetração de multinacionais através da Zona Franca. Em uma obra anterior, Mano Maná – das Utopias I (1976), uma instalação com cuias e farinha de mandioca sobre um tecido de juta, o artista apresentava uma contraproposta ao modelo extrativista baseado na posse individual de propriedade ao sugerir comunhão, partilha e coletividade, inspirado em práticas sociais caboclas, ribeirinhas e indígenas. Nos anos a seguir, Evangelista desenvolveria essas questões sobre as relações entre humano e meio ambiente, experimentando mídias diversas, como vídeo-arte e happening.

Este engajamento ativista com a construção de um olhar mais atento às dinâmicas territoriais, culturais e ambientais na Amazônia também estariam presentes no trabalho fotográfico de Miguel Chikaoka, produzindo a partir de Belém, e mais tarde na obra de Paula Sampaio. Assim, a produção artística na Amazônia, a partir da década 1970, contribuia para a configuração de um pensamento ecológico complexo, destacando as interações entre os diversos sujeitos e suas dinâmicas históricas e políticas, oferecendo, assim, novas formas de pensar o território que divergiam da lógica predatória promovida pela ditadura militar pautada no “vazio civilizacional”.

Tais práticas multimídia carregadas de preocupação socioambiental e que articulam um pensamento ecológico complexo, de onde surgem tensão e resistência a imaginários colonizadores sobre a Amazônia, podem ser percebida em artistas amazônidas exibidos na presente exposição, como: Gabriel Bicho, Evna Moura, Marcio Vasconcelos e Alessandro Fracta.

Gabriela Paiva de Toledo

Retratos de Pai Francisco, de Tairo Lisboa

Sonhos de uma Amazônia Sem Fim, de Alessandro Fracta

Amazônia Legal: Do Verde ao Azul, de Letícia Martins dos Santos e Lucas Ferreira Araújo

 

Alexandrina – Um relâmpago, do Coletivo Picolé de Massa

Eduardo Bartolomeo (Presidente)

Malu Paiva (VP Executiva de Sustentabilidade)

Alexandre D’Ambrosio (VP Executivo de Assuntos Corporativos e Institucionais)

Gustavo Pimenta (VP Executivo de Finanças e Relações com Investidores)

Carlos Medeiros (VP Executivo de Operações)

Marina Quental (VP Executiva de Pessoas)

Alexandre Pereira (VP Executivo de Projetos)

Marcello Spinelli (VP Executivo de Soluções de Minério de Ferro)

Rafael Bittar (VP Executivo Técnico)

 

CONSELHO ESTRATÉGICO

Malu Paiva (Presidente)

Flávia Constant (Vice-presidente)

Hugo Barreto

Octavio Bulcão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIRETORIA EXECUTIVA

Hugo Barreto (Diretor Presidente)

Luciana Gondim

Gisela Rosa

 

PROJETOS E PATROCÍNIOS

Marize Mattos

Equipe: Ana Beatriz Abreu; Barbara Alves; Elizabete Moreira; Eunice Silva; Fabianne Herrera; Flávia Dratovsky; Jessica Morais; Joana Martins; Luciana Vieira; Maristella Medeiros; Michelle Amorim; Nádia Farias; Neila Souza; Nihara Pereira; Renata Mello

Gabriel Gutierrez (Direção)

Deyla Rabelo (Assistência de Direção)

Ubiratã Trindade (Coordenação do Programa Educativo)

Alcenilton Reis Junior; Amanda Everton e Maeleide Moraes Lopes (Educadores)

Dianna Serra, Iago Aires; Jayde Reis e Lyssia Santos (Estagiários do Programa Educativo)

Edízio Moura (Coordenação de Comunicação)

Aiara Dália (Assistência de Comunicação)

Nat Maciel (Coordenação de Produção)

Fabio Pinheiro; Luty Barteix; Mayara Sucupira; Pablo Adriano Silva Santos e Samara Regina (Produtores)

Ana Beatris Silva (Coordenação Financeira – Em Conta)

Tayane Inojosa (Financeiro)

Ana Célia Freitas Santos (Administrativo)

Isabella Alves (Estagiária Administrativo)

Adiel Lopes e Jaqueline Ponçadilha (Recepção)

Fábio Rabelo; Kaciane Costa Marques e Luzineth Nascimento Rodrigues (Zeladoria)

Yves Motta (Supervisão geral de manutenção); Gilvan Brito e Jozenilson Leal (Manutenção)

Charles Rodrigues; Izaías Souza Silva; Raimundo Bastos e Raimundo Vilaça (Segurança)

SINTÉTIKA

OCUPA CCVM 2023

Alberto Bitar, Alessandro Fracta, Coletivo Picolé de Massa, Evna Moura, Gabriel Bicho, Letícia Martins, Lucas Ferreira e Márcio Vasconcelos

 

Curadoria

Gabriel Gutierrez

Coordenação Artística

Deyla Dayane

Gabriel Gutierrez

Júri Edital

Camila Fialho

Deyla Rabelo

Jane Maciel

Randy Rodrigues

Expografia

Gabriel Gutierrez

Raimundo Tavares

Textos

Gabriel Gutierrez

Gabriela Paiva de Toledo

Iluminação

Luis Zabel

Comunicação Visual

Fábio Prata, Flávia Nalon, Yugo Borges (PS.2)

Revisão de Textos

Ana Cíntia Guazzelli

Impressão

Daniel Renault (Giclê Fine Art)

Produção Executiva

Maíra Silvestre, Marcelo Comparini (MC²)

Produção

Fábio Pinheiro

Luty Barteix

Mayara Sucupira

Nat Maciel

Pablo Adriano

Samara Regina

Montagem

Diones Caldas

Fábio Nunes Pereira

Marlyson Nunes

Monique Vitória

Rafael Vasconcelos

Renan José

Vanessa Serejo

 

CENOTECNIA

Pintura

Daniel Almeida dos Santos

Gilvan Brito

Elétrica

Jozenilson Leal

Marcenaria

Edson Diniz Moraes

Dyoene Frazão Ribeiro

Francisco Diniz

José de Ribamar Pereira da Silva