“Arte é aquilo para o que se precisa simplesmente abrir os olhos.
O homem, no mundo, substitui a fatalidade em ações tão terríveis como a própria fatalidade. No entanto, ele é capaz de superar a fatalidade e a morte com o ato criativo do amor.”
ECI
Ministério do Turismo e Vale apresentam Afresco de Outono. A exposição apresenta 84 telas, do poeta e artista plástico russo, radicado em São Luís, Evgeny Solomonovich Itskovich (Евгений Соломонович Ицкович) – ECI. As obras retratam versos do poema homônimo do artista, escrito em 1983, em Moscou (Rússia).
Por meio do encontro das linguagens artísticas: poesia, pintura, música e dança, envolvidos em uma narrativa que perpassam por transições da natureza e a vida do artista, o público é convidado a refletir sobre si, o ciclo da vida e da natureza.
A direção é de Áurea Maranhão e traz Evgeny Itskovich e Maria Itskovich, filhos de ECI, como performers e músicos.
Texto Curatorial
Mãe, pai, irmão, tios, professores de piano, tomadores de chá, plantas e corpos nus, santos e diabos, vivos e mortos formam o grande retábulo que ilustra o poema Afresco de Outono, de Evgeny Solomonovich Itskovich (ECI). As figura não são daqui! Vieram de fora! São russos! O ambiente, objetos, sujeitos e o delírio atestam o fato. No entanto, de fora, percebemos que a abordagem é íntima. Tudo está dentro, ou vem de dentro, e enquanto espelho, pela diferença e estranhamento, para aqueles que o miram, é um convite de sobrevoo para perceber o que nos une enquanto seres idiossincráticos, diversos e originais. Tudo é estranho e familiar. Aliás, a família guarda em si uma área de sombra, indefinição e prisão, em que o limite intangível do outro é sempre testado e rompido. Famulus – escravo em latim – escravo doméstico, escravo do outro, o outro, sempre espelho.
Os rostos, que vemos, são máscaras festivas, teatrais, funerárias. Pela extemporaneidade, aludem às diversas máscaras que marcaram a história da arte ocidental: os retratos de Fayoum, personagens de Renoir, Ensor, Chagall. Aliás, a exemplo deste último, russo expatriado, a tradução plástica da memória natal revela o movimento de perpetuação do indivíduo deslocado em seu espaço-tempo. As máscaras são um furo: um portal. Inquisidoras, atônitas, debochadas e absurdas, apresentam-se como um espelho de mão-dupla, revelando quem está atrás e na frente delas.
As máscaras, apresentadas em Afresco de Outono, perpetuam os mortos, mesmo daqueles que, ainda vivos, esfumaram-se na construção das memórias. Toda a parafernália está presente no universo onírico, místico e absurdo, construído para a conquista do além, da eternidade e da lembrança. Todo o peso dos objetos e funções que definem os papéis sociais e familiares, gritam: Presente! – e assim, um pedaço da Rússia se naturaliza brasileiro. Ao final de tudo, para a morte, ninguém é russo e somos todos escravos.
As pinturas de ECI chegaram ao Maranhão, juntamente com a família, em 2006. Hoje, integram o acervo do atípico Museu Russo, localizado no centro histórico de São Luís. Embora soe improvável, o universo proposto já é propriedade da cidade, e nesta exposição se aproxima do espectador para cumprimentá-lo. Parece assombrado? De fato. O outro é sempre assombrado, e só é possível trazê-lo à luz quando deixamos que ele more em nós, e ao mesmo tempo moremos nele. Esse é o convite que a catedral explodida dos quadros aqui reunidos nos faz. Diga olá! (Здравствуй!)
Gabriel Gutierrez
diretor e coordenador artístico do CCVM
A Cena
A conversa entre a cena, a performance, a música e a obra pictórica e textual Afresco de Outono, revela a cumplicidade criativa dos membros da família Itskovich, com quem pude trabalhar enquanto diretora. Para a montagem do espetáculo propus a interação direta entre os performers, filhos do artista, o público e as telas que constroem o cenário/instalação. As pinturas são personagens vivos e, com os atores retratados em muitas delas, funcionam como um espelho. A disposição tridimensional convida o público para adentrar o espaço. O texto conduz o jogo cênico e alinhava a relação entre os corpos presentes, a música e as obras.
O pensamento e a língua russa estão presentes por todo processo criativo de montagem. As falas e o canto serão dirigidos ao espectador ora em Português ora em russo, proporcionando uma imersão na sonoridade dessa fala magnífica, que tanto diz sobre aquilo que não pode ser traduzido.
Áurea Maranhão
Evgeny Solomonovich Itskovich
Evgeny Solomonovich Itskovich (Евгений Соломонович Ицкович) – ECI nasceu em 1959 no território da antiga União Soviética, na cidade de Kiev (atual capital da Ucrânia), onde vivia a família de sua mãe. Logo foi levado para Moscou, onde permaneceu até a sua vinda ao Brasil.
Escreveu suas primeiras poesias aos 12 anos. A criatividade de Evgeny preocupava sua mãe, que o levou ao psicólogo para uma consulta. O diagnóstico foi preciso: poeta.
Em paralelo, formou-se médico-socorrista. O amplo estudo da anatomia e fisiologia do corpo humano e o treino de um olhar clínico-diagnóstico tiveram grande impacto em sua arte. Durante este período, participou da expedição arqueológica ao Quersoneso, onde conheceu Liubov Itskovich, com quem se casou após um reencontro ocorrido quatro anos depois.
A partir da década de 1980, o jovem poeta buscou delinear seu espaço artístico através de récitas. Em meio de amigos, em festas e em sua casa, junto a sua esposa, expandiu seu público e foi convidado para declamar suas poesias para audiências cada vez maiores, como teatros, clubes de poesia, na rádio e outros espaços da capital russa.
Em 1995, já na Rússia atual, lançou seu primeiro livro de poesias “Placas do Coração”. Editado por Liubov e ilustrado com gráfica e quadros do seu irmão mais novo Dmitrii Itskovich, o livro foi premiado no concurso nacional Arte do Livro, em 1996, em Moscou.
Para o segundo livro Afresco de Outono, poema escrito em 1983, ECI assumiu o papel de pintar e ilustrar ele mesmo sua obra. Em 2002, ganharam vida suas primeiras telas.
Já em 2005, com o livro praticamente finalizado acontece sua primeira exposição na galeria Asti, em Moscou. Com muitas críticas positivas, parte das obras foram selecionadas para edição do disco-catálogo Artistas plásticos de Moscou 2005. Neste momento, seus filhos Evgeny e Maria já participavam dos recitais poéticos, com interpretações musicais e performances.
Em 2006, o artista realizou sua primeira exposição no Brasil. Intitulada Próximo – Daquele Lado, a mostra foi montada na Galeria Antônio Almeida, no Palacete Gentil Braga, em São Luís. Encantado com a calorosa recepção e com a cidade, ECI resolve mudar com sua família para São Luís, onde fundaram o Espaço Cultural Russo ECI MuseuM, com exposição permanentemente de suas obras.
Dentre os espaços que expuseram seu trabalho plástico estão: Galeria Antônio Almeida, Galeria Fernando P., Museu Histórico e Artístico do Maranhão, entre outros; e em Moscou: Galeria do Kiselev e Galeria Put Edinstiva, instituição muito conceituada na Rússia
por sua filha, Maria Itskovich.
Maria Itskovich
Atriz, cantora, compositora, palhaça, poetisa, dançarina popular, produtora e professora de música, é filha de ECI. Aos 16 anos, mudou-se da capital russa, Moscou, para a cidade de São Luís – MA, Brasil. Formou-se em canto lírico pela EMEM e licenciou-se em Música pela UEMA. É especialista em metodologia e lecionou piano e musicalização na UFMA. Em sua trajetória artística, fez parte da trupe circense Du-nada, grupos de dança popular Tambor do Mestre Amaral e Cacuriá de Dona Teté, Cia. Direto da Fonte, banda de rock Ornitorrincos do Sertão Turu. Apresentou-se em recitais de canto lírico e interpretou Luna nos filmes da franquia Muleque té Doido, recorde do cinema maranhense. Também compôs trilhas para espetáculo Mulheres de Shakespeare, o curta Eu sou Patrimônio e performance Afresco de Outono.
Evgeny Itskovich
Natural de Moscou – Rússia, é pianista e compositor desde 14 anos. Em 2000, entrou no mundo do cinema e do audiovisual, atuando como diretor, roteirista e compositor de trilhas sonoras. É bacharel Cinema e Mestre em direção de cinema e TV, pelo NGUNN de Moscou, Rússia (2005), além de ser licenciado em Música pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA (2016). Em 2006, mudou-se para São Luís – MA, onde dirigiu filmes como: Alma e Corpo (2013), Olhares de Paz (2015), Somos uma só voz, (2017) e contribuiu ativamente com audiovisual no Maranhão, ministrando oficinas e cursos de cinema no festival Maranhão na Tela, na Semana de Teatro do Maranhão e na Semana dos Museus. Compôs e atuou como musicista para as peças Para Uma Avenca Partindo e Amor Obsessivo , da Cia. Teatro do Redentor e está no processo criativo da performance Afresco de Outono como o compositor da trilha musical, pianista e performer.
Entre 2016 e 2018, lecionou no Departamento de Música da Universidade Federal Do Maranhão – UFMA.
É co-fundador e um dos dirigentes do Espaço Cultural Russo ECI – MuseuM.
Atualmente, além de realizar atividades artísticas, leciona música e cinema, e está se especializando em Ensino de Arte e Música pelo Instituto Brasileiro de Formação.
Liubov Itskovich
Russa, nasceu em 3 de setembro de 1958, na cidade de Habarovsk (União Soviética), extremo oriente da Rússia, e aos 9 se mudou para Moscou. É Mestre em Arquitetura de Paisagem, pelo Instituto Tecnológico Florestal de Moscou, especialista em Guia Turística, membro da Fundação Internacional das Artes.
Além de trabalhar no campo de paisagismo, se dedicou a atividades educativas e culturais. Foi diretora do Colégio Particular Filipova, onde desenvolveu concepção educativa, organizando viagens, encontros e eventos culturais.
Idealizou a arte do livro de poesias Placas do Coração, de Evgeny Itskovich com ilustrações de Dmitrii Itskovich, com qual foi premiada no Concurso Nacional de Arte de Livro, no ano de 1995. O conceito do livro buscou aproximar o leitor da poesia, por meio de uma fusão com artes plásticas. Essa concepção impulsionou a criação do próximo livro, Afresco de Outono.
Após a chegada ao Brasil, junto à família, cria o espaço ECI MuseuM, onde coordena e gerencia projetos culturais, educativos e de meio ambiente, além de ministrar aulas da língua russa.
Áurea Maranhão
É atriz, diretora e performer formada na Escola de Arte Dramática EAD/ECA/USP. É atriz pesquisadora do grupo AP43, dirigido por Nara Sarakê, co-fundadora e produtora da Ordinária Companhia, grupo teatral com sede em São Paulo (SP), e sócia da produtora Marafona Blue. Estreou na Rede Globo no papel de Ticiana, na novela A Dona do Pedaço e tem estreia prevista na Netflix, atuando na série Cidade Invisível. Dirigiu o curta metragem Carnavalha, ganhador dos prêmios de melhor filme júri popular e melhor atriz para Áurea Maranhão nos festivais Maranhão na Tela e Guarnicê, e melhor filme Maranhense no troféu ABD 2017.
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Galeria Virtual





































































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Afresco de Outono
Evgeny Solomonovich Itskovich
Performance Afresco de Outono
Direção: Áurea Maranhão
Performers e Músicos: Evgeny Itskovich e Maria Itskovich
Expografia
Gabriel Gutierrez
Iluminação
Calu Zabel
Comunicação Visual
Fábio Prata, Flávia Nalon e Gabriela Luchetta (PS.2)
Produção
Deyla Rabelo
Edízio Moura
Pablo Adriano
Marcos Ferreira
Samara Regina
Fotografia
Clarissa Vieira
Cenotecnia
Edson Santos
Montagem
Diones Caldas
Fábio Nunes Pereira
Marcos Ferreira
Pintura
Gilvan Brito
Elétrica
Jozenilson Leal

Direção e Coordenação Artística
Gabriel Gutierrez
Assistência de Direção
Deyla Rabelo
Coordenação do Programa Educativo
Ubiratã Trindade
Educadores
Alcenilton Valério Correa Reis Junior
Erick Araújo
Maeleide Moraes Lopes
Comunicação
Clarissa Vieira
Giselle Bossard
Coordenação de Produção
Edízio Moura
Produção
Marcos Ferreira
Pablo Adriano Silva Santos
Samara Regina
Coordenação do Financeiro e Administrativo
Ana Beatris Silva (Em Conta)
Financeiro
Tayane Inojosa
Administrativo
Ana Célia Freitas Santos
Recepção
Adiel Lopes
Jaqueline Ponçadilha
José de Ribamar Pinheiro Ferreira
Estagiários do Programa Educativo
Amanda Everton
Gabriel dos Anjos Costa
Guilherme Castro
Zeladoria
Fábio Rabelo
Kaciane Costa Marques
Luzineth Nascimento Rodrigues
Manutenção
Yves Motta (supervisão geral)
Gilvan Brito
Josenilson Leal
Segurança
Charles Rodrigues
Izaías Souza Silva
Raimundo Bastos
Victor Silva

Diretor – Presidente
Hugo Barreto
Gerência de Educação e Cultura
Flávia Constant
Camila Abud
Juliana Alves